terça-feira, 3 de maio de 2016

Impeachment: O Mito - Parte 2/3

Quem acompanha esportes no Brasil sabe que temos verdadeiros heróis nacionais. Figuras que vão além de seus resultados esportivos. Afinal, você já viu alguém criticar Ayrton Senna, Gustavo Kuerten ou Marta? Eu nunca vi! Realmente foram atletas exemplares e chegaram ao topo de suas respectivas modalidades, mas o que estou tentando mostrar é que nossa imprensa tem um papel fundamental em criar histórias e ídolos que cheguem ao emocional das pessoas.

Senna, por exemplo, foi 3 vezes campeão da Fórmula 1. Disputou de igual pra igual com o brasileiro Nelson Piquet, também 3 vezes campeão, com o francês Alain Prost, 4 vezes campeão, e com tantos outros, como o inglês Nigel Mansell, a supremacia da categoria no anos 80 e no início dos anos 90. Senna já foi até eleito pelo próprios pilotos o melhor de todos os tempos, mas é preciso entender que, além de suas qualidades, a imprensa construiu uma imagem de herói nacional no imaginário popular.

Pra entender melhor como funciona essa construção, talvez o programa televisivo Esporte Espetacular, das manhãs de domingo da Rede Globo, seja o melhor dos exemplos.  O programa praticamente só transmite disputas esportivas que algum brasileiro tem chance de vencer, ou seja, se é favorito. Se for esporte coletivo, tenta personificar o herói em alguém de destaque. Vejam as matérias sobre Neymar, por exemplo. A mesma lógica foi usada com Oscar Schmidt no basquete, com Marta no futebol feminino, Daiane dos Santos na ginástica, Hugo Hoyama no tênis de mesa, Popó no boxe e, mais recentemente, Gabriel Medina no surfe. Aliás, a conquista de Mineirinho no último ano do WCT não é o ideal pra essa construção. Seria muito mais fácil a criação do mito se Medina ganhasse o título. É mais fácil vender um único ídolo, um único bom moço e, se possível, identificar um vilão. Prost foi o vilão de Senna. A seleção cubana era a vilã da seleção feminina de vôlei. E os argentinos, ah... Quem melhor que os argentinos pra o papel de vilão?

Herói e vilão
Ao contar histórias, a imprensa também cria heróis e vilões em outras áreas, como a política. Ao tentar descrever uma operação ou um escândalo de corrupção, a narrativa acaba levando a um maniqueísmo simplório.

No caso do “Mensalão”, José Dirceu foi o vilão. Foi apontado como grande líder, grande mentor, chefe da quadrilha de todo o esquema denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Como resultado, o herói é aquele que pune o vilão. No Mensalão, foi Joaquim Barbosa, ministro do STF encarregado de ser o relator do caso e presidente do Judiciário no momento do julgamento. Sua participação foi de fato relevante, mas pra narrativa seria muito mais complicado colocar os 11 ministros do Supremo como responsáveis pela condenação de José Dirceu.


Impeachment
Agora, na “Lava Jato”, não é diferente. Foram eleitos os vilões: Lula, Dilma e o PT. E o herói é o juiz Sérgio Moro, responsável pela condenação e indiciamento de muita gente, sem contar a possibilidade de colocar o ex-presidente na prisão.

Se dermos uma olhadinha em algumas capas das revistas de maior circulação do país, vemos bem como os mitos são criados.

Tem o juiz herói:


Tem o lado corrupto:


Dessa vez, tem até o conciliador da nação. Tentaram transformar o conspirador do golpe em uma espécie de salvador da pátria para sair da crise:

Construir uma narrativa na opinião pública que apontem os mitos de forma unilateral já não é tão fácil como em outros tempos. Hoje, há veículos de comunicação  alinhados com o PT, existe uma difusão de versões em redes sociais propagadas de modo incontrolável e há também uma imprensa estrangeira disposta a apontar as contradições de ambas as versões[1]

Independente dessa guerra de narrativas, mitos vem sendo reproduzidos à exaustão. Afinal, vai que cola?

Nenhum comentário:

Postar um comentário